7.5.10

Espero por ti no banco do costume


Espero por ti no banco do costume. Como sempre há uma impaciência idiota que me atravessa, como se não te merecesse, como se de um dia para o outro todas as certezas se afundassem e tudo se resumisse a este hiato de minutos que me separa de ti.
Há uma necessidade inata de querer o que não existe. Há uma existência que dói para manter a felicidade, como nossa, como se ela não fosse dona de si própria.
Chegas, porque tinhas e querias chegar, e eu quero que venhas e me olhes, e na serenidade de um olhar teu que me abraça, no teu perfume fresco dos dias quentes, nas madrugadas que espreitamos, quando a chuva nos fala e nos deixa juntos, no focinho dos bichos que se aninham nos teus joelhos, nos sons enfeitiçados das músicas que me arrepiam, nada mais se vê senão os olhos, e dentro dos olhos há um mundo de expressões e de sentimentos, há uma escrita nova que se desenha na tua língua, há a intensidade dos olhos que se fecham, porque este olhar não cabe dentro de nenhum olhar, e o toque e os corpos e o calor dos corpos não se sentem nem calibram, são chamas imensas ateadas, são minutos em que o mundo apenas é nosso, porque nada existe fora de nós, por isso queremos morrer nesse minuto e nesse minuto queremos ficar até morrer.
Nas paixões assim, intensas, dádivas amplas lembrando vulcões que renascem, rios incontroláveis, selvagens, multidões que sabem gritar a uma só voz sem que ninguém as ensine, crianças de berço que apenas querem o que lhes faz falta e choram apenas por isso, dores violentas de parto que choram na maior e imensa alegria, nestas paixões, está esta raça humana e diferente que me traz vivo.
Como posso num poema desenhar esta emoção e esta força que me exaure e me faz mais forte? Como me posso entender nesta violência que ciranda a cabeça e me confunde?
Como dizer-te isto apenas nas mãos apertadas?
Nada digo, e assim tudo posso, na imensa avenida que a largueza do coração consegue traçar.

3 comentários:

guvidu disse...

suspiro...com a intensidade das tuas palavras...sempre apaixonadas e marcantes. q bom ler-te!!! bj

Vanda Paz disse...

Intenso!

Beijo

Clayton Fernando disse...

Simplesmente maravilhoso, rapaz!