7.5.10

Poemas de Ti(23)




Há na ausência
uma delicada cicatriz
que não me perturba
nem me lembra ao olhar.
É quando lhe toco,
que entendo o quanto sangra,
e como se torna fresca
e real
ao se abrir,
por te tocar.
Acordo estes sentidos
deitados noutras camas
alheados,
adormecidos,
e como que o vento
desperta de aluvião,
e agiganta as velas
brancas,
páginas de um diário
incompleto;
e é do meu peito de náufrago
que te desejo,
rocha
dura, íngreme
onde aporto
e te abraço,
farto deste mar que não me lava
deste barco onde não caibo,
deste gelo na barriga
que me diz
de onde venho,
e me torna imenso
só por te ter
por te achar,
na pequena cicatriz
muda
que nunca acaba por sarar.

1 comentário:

guvidu disse...

esplêndido ao (en)cantar a dor do ser-se náufrago, condição que parece ser tão nossa...