30.9.14

AMOR DE TODOS OS DIAS















Na placidez dos beijos enfurecidos
pergunto-me a que sabem os teus
senão à tua boca
a que cheiram
senão à carne da tua língua
abraçando a minha
nem será importante que o saiba
hoje
quando soluças ou estremeces
nos teus orgasmos plenos
férteis
os nossos corpos encontrados a meio do outono
simples
nús
como sempre serenamente me soubeste fazer feliz
e por isso sempre a ti volto
sempre de novo desejando-te
porque os teus seios se decalcam no meu peito
e os nossos lábios têm falas próprias, destinadas
a nada dizer
se o que sentimos porventura nada diz
como as árvores que nascem onde querem nascer
como os meus dedos
no teu sexo
verdadeiro
e os teus sussurros pronunciados
que me nomeiam teu
na nossa cama
porto velho
onde atracamos no fim das jornadas
o nosso único navio
cheio das gargalhadas e dos sorrisos
junto às trouxas de lágrimas
dos dias vencidos
dos poemas feitos de olhos fechados
no calor do teu corpo exausto
contra as minhas costas suadas coladas
que me fazem teu
amovível
sem carnes nem contornos novos
que as cicatrizes marcam fronteiras
num amor sem olhos que o veja
como um poço sem fundo
onde tudo guardamos
no entusiasmante encontro veterano
dos gestos juvenis que vão nascendo
nos encontros dos dias
da velha casa
velho tecto conhecido
meu abrigo novo

meu amor de todos os dias

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