O sol bateu dentro de mim, como a um gato estendido nas lajes do
alpendre. Os olhos fechados guardaram cada átomo, cada milésimo de segundo
precioso, quando me deixaste entrar, e te olhando vi tudo o
que podia olhar, e os teus olhos como duas esmeraldas doces disseram apenas sim, e me pediram apenas que te dissesse sim, sem passado nem futuro, apenas ali.
Os livros que encontro por ti a dentro, são pensamentos confundidos,
são apenas actos de sentir e ler, e
Eugénio e Cesário abraçam-se na escrevaninha, Camus no peitoril da janela,
espreita os pedaços do sol que morrem pela tarde dentro. Pessoa, o Joaquim,
está junto às tesouras e à fita-cola, em cima de cadernos onde te encontro
solta, folheada em trechos frescos dos teus próprios poemas, e os teus braços
que me puxam, são ainda mais longos e fortes que a ponte vermelha que nos olha
da tua varanda. E amamo-nos
Somos apenas corpo e um desejo só, sem palavras, sem mais que te ter e
saber que me tens. E quando repousamos lado a lado, a tua mão rodopia no meu peito como
bailarina, dançando em pontas, dizendo coisas que todo o tempo quis ouvir
apenas de ti. Levantas-te, nua, linda, mulher.
E as lágrimas escapam-se dos meus
olhos para te seguir.
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