12.11.12

Na sala de espera de um consultório

















Não se vêem olhos nem faces reluzentes,
antes o bafo, sentados, como convém, doentes.
o verbo solta-se, cheira, inunda
espera-se na soleira por uma voz profunda.

Há traços imprecisos nas faces lábeis,
os lábios quase colados, finos, roxos
murmuram das vidas, em meneios hábeis
das vidas que adivinham, dos decrépitos e dos coxos.

Solilóquios aos cantos da sala, disputados, eremitas
reparam-se nos dedos, nas mãos inquietas que mexem
ininterruptas
e as nucas, sempre as nucas que arranham as paredes
como a espera das prostitutas.
e os guardanapos que tapam dignamente as marmitas.

nem se imaginam, se mentem,
secam-se os desgostos nos folhados
e nos depósitos de orelhas amigas, vazias
queixas, histórias, funerais anunciados

e os lábios são tambores rufando, soprando
o desgosto de por ali se entreterem, a sopa
ficou por casa, não está feita, e a roupa,
e os telefones, são músicas de aleluia chegando

em conversas de códigos, que sim, está para durar
já todos foram chamados,
falto eu,
sou eu agora, adeusinho. Já me estão a chamar.