24.6.11

Balanço












Agora que me vou lembrando
do percurso dos anos e dos minutos
do que trago em mim
no tempo que tenho,
e de dentro de mim
nos passados escondidos
impenetráveis,
apenas as minhas mãos,
sabem de tudo
e nos meus pés
as certezas frágeis de avançar
e dos recuos automáticos, indomáveis.

É na escrita que me desalinha
Que abraço tudo o que me chega
e procuro nos detalhes
a beleza do pormenor,
preciosos pormaiores
delicados como os gestos das princesas
das coisas piedosas
sem porquês.
Só o homem faz do mesmo acto
alegria e tristeza,
silêncio e berraria.

Antes fosse um pintor de paredes claras
antes tivesse nas mãos
as aguarelas de Lisboa,
onde o cheiro das lágrimas
não entrasse
e a dor, e a fome
fossem de pão.

Mas sou aquilo que invento,
tenho este traje colado
deste amor que me diz
e da falta dele que me cinge,
e é neste caminho que sigo
sem volta
que o amor também se faz caminhando.

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