18.8.10

Verão, quente Verão


O estio seca a boca,
as palavras secam de maduras
repetidas
não há poemas paridos.
as histórias permanecem
sabemo-las de cor,
não há lugar nos bancos por baixo
das cerejeiras
há pernas nuas estendidas
e os colarinhos expulsam as gravatas
ofendidas
os rostos entumecidos, rubros
os esgares da pressa pela noite
e as brisas dos becos escuros
são delícias
surpresas novas por agora.
o verão queima
o meu peito murcha
na espera das regas vespertinas
a erva não cresce
amarelada
só as crianças permanecem
só elas brincam
e aproveitam os dias grandes
deste sol de Agosto
irmão do luar que alumia
noites de insónia,
onde nem os poemas cabem
mãos suadas, pegam-se ao papel
empardecido, onde a lua se espelha
e me beija
neste estio seco
de que me quero livrar.

2 comentários:

Vera Carvalho disse...

Tão bem descrito o calor dos dias estios, as insónias que a longevidade do tempo nos traz, e a vontade de avançar o relógio.
Aproveita o tempo, meu querido, seja quente ou frio. :)
Um abraço.

Vanda Paz disse...

Que venha então o Outono para que não te murche de vez o peito e se alegrem as palavras.

Muito bom este poema

Beijo