27.5.10

A TERRA DA IMAGINAÇÃO


foto de Lina Batista

Hoje acordei no meio dos sonhos, piscando os olhos, uma luz ténue chamava-me do outro lado das persianas, brancas.
Havia um silêncio que ressoava dentro de mim, deixando todo o espaço ao convite para o tornar a minha sala de estar, o meu lugar.
Chamou-me um ser sem forma, completamente estranho, sem palavra que o definisse, apenas ser. Abriu-me a janela, as persianas tinham desaparecido, e eu não distinguia nem pés nem mãos, apenas via e cheirava e ouvia o silêncio como um todo natural. Na minha frente, uma terra sem cor, os meus dedos eram lápis de cera, quentes e coloridos, as cores ocres cheiravam a terra depois da chuva e os tons verdes aclaravam-me os sentidos e as memórias do musgo do Natal e dos presépios inocentes. Ergui o indicador, azul, de todos os tons azuis, sem céu nem mar, como se em cada pequeno risco se espalhasse sem limite nem fronteira o lugar onde eu quisesse chegar.
No meio deste meu acordar, percebi um pequeno dizer, num daqueles marcos brancos que ainda aparecem nas terras antigas, colecção de pontos que nos levavam da ida à chegada nas viagens longas e intermináveis, dizia apenas: TERRA DA IMAGINAÇÃO.
Vesti-me, enfiei os sapatos de toda a vida, aqueles que sempre nos cabem nos pés, que não se sentem e nos levam a todo o lado, deixei-me cair na relva e soube onde estava. Nada me doía, nada me comandava, apenas fruía desta mágica terra onde apenas sou eu.
E sonhando, sonhei contigo, desenhei-te, e vesti-te com a roupa com que sempre te quis ver, no toque da seda, e das tuas costas nuas onde a minha mão se sente feliz. Mais do que te disse, eras tu agora que dizias, e sorrimos as vezes que quisemos, e a música tinha os sons que escrevi, e a tua boca em tons carmins, brilhando, repetia incansavelmente “eu te amo”.
À minha frente, um bosque de carvalhos e duas alamedas de freixos e olmos davam directamente para paredes cheias de estantes. Os livros com vida própria entravam e saíam, cumprimentavam-se e sorriam-me, deixando palavras agradáveis e pensantes. Na Terra da Imaginação, um coreto largo, com o chão de almofadas de veludo, chamava-me, e deixei-me cair apenas ouvindo a melodia de um violino que estava de serviço aquela hora.
Caminhei, depois corri, com o gozo de pernas que não me transportavam, apenas correndo, o vento beijando-me a cara, e cheguei ao ponto mais alto desta Terra. Um banco, e uma tela com todas as paisagens que me fazem chorar e agradecer os olhos com que as vejo, esperavam por mim.
Sentado, quieto, dono de mim, os pensamentos e as ideias, eram agora soberanas. Uma folha de papel, irresistivelmente virgem acomodou-se no meu colo, e eu sorrindo ao ser que não tinha nome nem forma, escrevi uma única palavra no meio dela – Liberdade.

1 comentário:

guvidu disse...

a liberdade de com a imaginação, se voar através do coração...

adoro, como sempre!
bj grnd luz e paz