27.4.10

Passagem




Os sentimentos são como cães vadios, vagueiam com uma inconstância quase constante, nada seguram nem guardam, passam e transformam-se como as cidades que mudam de lugar entre a ida e o regresso. Cada dia é o mesmo dia, bom e mau, como o passado e o presente que muda cada pétala, sem dor, entre nascer e morrer.
Olho-me ao espelho, com o mesmo olhar que os anos deixam, e nas rugas e nos traços maduros, denuncio as diferenças que me trazem igual de memórias pintado,
O bom e o mau, são o mesmo sim e o mesmo não. Há gente má que hoje é boa, e são os mesmos, os sorrisos e os choros que caem dos nossos dias a dois, são água da mesma fonte. A felicidade dos poderosos é a infelicidade de quem cai do pedestal, como o velho e o novo, sempre o mesmo homem. Somente a ilusão do tempo nos diz que tudo é igual.
Tenho este fato vestido há tempo de mais, e o passado abraça-me como se o presente não me quisesse, sinto meu corpo sendo arrancado bocado a bocado. O meu mundo é do tamanho do meu viver, e o meu viver é a sombra de todo o universo.
E nos tons das cores que me cercam, apenas a ilusão do tempo me separa deste entendimento, de que todas as estradas têm sentidos, e que para cada colina há o sacrifício da subida e o conforto da descida. Afinal só estou de passagem.

1 comentário:

guvidu disse...

e é por isso que somos todos fragmentos...

bj amigo