17.2.09

Onde queres ir?


Estás à porta.
Abrando.
Paro.
Olhas-me.
Olho-te.
Entras.
Os meus olhos têm o desenho de uma interrogação.
Fico suspenso do teu som. Agudo. Pedindo que nada seja crónico.
Permito-me a esperar, a entender onde queres ir.
Vejo nas tuas mãos, escondidas, impacientes a frase mais injusta.
Apenas, tira-me daqui...
Arranco, sacudo-te.
Abro a janela, está fresco. Fecho - Não, abre, preciso de ar.
Repito, na minha impaciência - para onde vais?
Vejo nos teus olhos fechados, que estás a caminho do longe. Do não regresso.
És como um bebé deixado na porta, sem mensagem, sem destino, apenas deixado nos meus braços, na minha vida, sem mais que a minha vida, sem escolha.
Cheguei, onde sempre chego, quando parto sem destino, o rio sorri ao ver-me chegar, mostra-me as ondas, as rochas desdentadas e alegres conversam com as gaivotas, sem pressa.
Não tenho cigarros, não te abraço, não te ofereço perguntas. Sou apenas presença e tempo para que te amarres ao teu querer. Olhas-me e não me vês, não sabes o quanto já te amo, o quanto já me fundi na tua intensidade, na tua fuga, em quereres partir.
Se ao menos me dissesses onde te dói.
Ligo o rádio só para mim.
Pedes mais alto, e choras nos meus braços, ao início um choro baixo e envergonhado, depois pungente e soluçante, misericordiosamente retemperante.
Sorris.
Passou?
Não. Apenas pedes que volte, nada passou. Foi a chuva a parar.
Foi bom que a vida passasse.
Tudo tem um tempo, tudo tem uma explicação, um modo de ser. Abraço-te pelo momento, pela dádiva, pelo prazer de dar. Parto contigo e deixo-te no teu destino, nunca será ao teu destino, porque chorar, também precisa de viagens.

6 comentários:

Anónimo disse...

Muito intenso. Um destino que, espero, seja feito em conjunto!

Beijo

Anónimo disse...

Deixaste-me sem palavras... tanta intensidade

olho-te
penso-te
e levo-te comigo

e tu ficas sempre...sempre...

Parabéns Poeta

Beijo

guvidu disse...

Os excertos q destaquei tocaram-me, profundamente, pelo sentimento, reflexao e vivencia q encerram...ou melhor, abrem...para béns! e grata por + uma leitura tua. bj


"Não tenho cigarros, não te abraço, não te ofereço perguntas. Sou apenas presença e tempo para que te amarres ao teu querer. Olhas-me e não me vês, não sabes o quanto já te amo, o quanto já me fundi na tua intensidade, na tua fuga, em quereres partir.

(...)

Tudo tem um tempo, tudo tem uma explicação, um modo de ser. Abraço-te pelo momento, pela dádiva, pelo prazer de dar. Parto contigo e deixo-te no teu destino, nunca será ao teu destino, porque chorar, também precisa de viagens."

T disse...

"Vejo nos teus olhos que estás a caminho do longe..."


E posto isto, calo-me.

Andreia disse...

Que lindo! Que imagem! *

T disse...

Então e quando temos mais?