1.12.08

As palavras mexem-se sózinhas


É certo que me falta a vontade e a causa de sempre ter vontade de escrever e sentir as palavras que se mexem sozinhas, como se não fossem deste corpo que vai enrugando e enganando o seu dono. Os olhos ardem do cansaço dos dias, porém continuam fitando com a mesma férrea liberdade o que os pensamentos sempre conseguem: - a verdade dos dias, a importuna necessidade que aparece nos filmes e nas televisões, sumários de vidas mais reais e certas, onde nem todos são felizes, nem lindos de arrepiar.
Há dias a mais com a melancolia a tapar os joelhos, a obrigar-nos a vestir o casaquinho das aragens vespertinas. Eu estou pronto para o sol, e na minha cabeça, hei-de ser sempre o rapaz e ela há-de ser sempre a miúda que hei-de seduzir, quando lhe bater na porta e sentir o som dos seus passos a crescer de encontro a mim. Nos meus olhos, hei-de ter sempre a minha melodia que é apenas tua, aquela que só eu acho linda e nunca ninguém me ouviu nem sequer um som; é a tua
É certo que a escrita pode ser tudo, pode ser catarse e terapia, pode ser solidão e entretenimento, pode ser código e forma de dizer, mas antes de tudo, é a maneira de expressar o que pensamos, sem ser preciso proferir os sons que tornam a escrita um modo diferente de entender aquilo que realmente ouvimos.
Abraço cada palavra como a um filho, porque como um filho, é alguém que nasce para um sentido único, a quem damos tudo e depois vemos crescer e viver a sua vida para além de nós.
No fim de cada história, de cada texto inventado, fica uma palavra a crescer no peito, como um pequeno vaso repousando no peitoril da janela, esperando a manhã e um raio de qualquer sol, para que cresça tal como a melodia de uma mulher, só cantada e feita para ela, só por amor, que só amor pode pintar as memórias de um homem com vontade de ter vontade.

4 comentários:

Vanda Paz disse...

Gosto quando metes as palavras a mexerem-se sózinhas

parabéns

Beijo

☆Fanny☆ disse...

Gostei do movimento das tuas palavras, estas que, muitas vezes, não sossegam dentro de nós e nos fazem cócegas para nos acordarem a escrita.

Um abraço*

Fanny

Anónimo disse...

as palavras transmitem a energia de quem as escreve e eu adoro as tuas palavras, com um quê de intenso e fatalista, mts vezes, nostálgico.como se fossem um jazz, ou chill out
bjs,asas

disse...

palavras...de não podermos ser sem elas...um querer maior por sermos incomensuravelmente menores sem elas...Não sei se são mais elas minhas que eu delas...talvez por ser tão miúda ainda, não o consiga perceber...
e só quero ser miúda para sempre...=)
Um grande beijinho