31.7.06

Retalhos

Os poemas são retalhos
catados no devir do mundo,
sustento do imaginário,
com que me visto,
destes panos que me tapam,
destas vestes que aquecem
e me guardam.

São palavras paridas
no tempo
nos momentos acontecidos
na soleira de qualquer porta,
são a ternura que se abraça,
e a raiva dos dias
em que chove pólvora,
e o sossego,
é o anátema cobarde
do esquecimento.

Os poemas são a veste que envergo,
lingua do tempo da revolta
gestos de amores
gritados,
dos olhos a brilhar,
da cadência das àguas,
das memórias
desfiadas nas noites
em que a lareira
crepita.

Os poemas são retalhos
de um corpo velho,
sarcófago de esperanças
que teimam em renascer,
são alforges
que carrego nas costas,
canções que entoo,
pássaros rumando ao Norte,
são retalhos da primavera,
voltando ano a ano.

Os poemas são retalhos,
desta manta
com que se cobrem
todos os dias,
todas as palavras
com que te pronuncio,
meu amor.

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