29.6.06

Dias cinzentos

A rotina alimenta-se de mim,
repetitiva roda
que os dias tecem.
toca o telefone, e não atendo,
bates à porta -
digo que não estou...
O que eu queria era o vento
a romper as janelas,
a chuva bruta e selvagem
pelas paredes dentro.
O cheiro do amor
na minha almofada,
o prazer do vinho
dessedentando gargantas,
as mãos cheias de tinta
de poemas esventrados.
Procuro meu espaço
fora das teias
deste tempo,
escuro como breu,
nada vejo,
nada sinto,
são lágrimas que não escorrem,
olhos cegos,
afundados,
perdidos,
apenas te percebo,
deslizando por dentro
da minha pele,
tomando-me
consumindo-me
neste vago torpôr
nesta impotência maldita,
dos dias cinzentos
sem sangue
sem ti,
repetitiva roda
que a rotina
escava.

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