4.9.15

Um café para tomar


 









Temos um café para tomar
ou outra desculpa ainda mais vulgar
adiado todas as vezes
hoje eu
amanhã tu
não posso
não podes
talvez outro dia daqueles onde não chove
ou o vento baila menos
como se a memória do cheiro que ficou
de todos os outros cafés
ou da contemplação do teu peito
chegado a mim
ou dos teus lábios castanhos
arábica uns dias
robusta outros
ou dos dedos clandestinos
ousando tocarem-se
ou de um beijo roubado
longe dos passos que nos surpreendam
não nos faça desviar e entrar
na tua mesa
bem à janela
onde os teus olhos profundos
doces
dizem tudo
quando coram escarlate
ou te escondes na madeixa mais escura
desse teu cabelo
que te torna azul
mar nessa chávena quente
presa entre as tuas mãos
no teu sorriso
sem açúcar
apenas os teus lábios
e um pouco de canela
e o nosso café
pode ser outra vez

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