4.4.14

Solilóquio

















olho todos os que me querem
por aquilo que tenho
amo, os que me querem
por quem sou, quero-os.
desprezo o meu nome
em listas, agendas, ficheiros
dos que podem, gritam
de quem manda.
a minha vida assenta
em papel e num lápis
em poder desenhar estas letras
que me abraçam e sorvem a alma
e explicam a parte real do que sou.
reparo em tudo o que quero
nesse abraço que vem por trás da nuca
como lenço de cetim
mimando
querendo o que os outros possuem e eu já vi,
o que raramente entendo, o que eles são.
são horas demasiado longas
companheiro de mim
irmão de cárcere
sem escolha, compartilho catre e um prato
cinzento de metal, frio
de tudo o que digo, verdade e mentira
sou a solidão de todos os momentos
e murmúrios de solilóquios
onde apenas falo à minha própria paixão
e por fim deixo que o teu nome
me percorra
guardo-o como um tesouro em relicário
brilhando entre o vazio
de tudo o que não me serve.
da distância perplexa
da vontade
minha e tua e dos teus pés
para onde caminha um horizonte azul, longínquo
por um homem que sabe a saudade
na secura da boca
esvaziada. 

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