17.4.13

Preciso




















preciso das tuas mãos
talvez do teu colo,
deixar que me embales e descanse
a cabeça,
como um cão aninhado, pedindo festas.

Preciso que as batalhas permaneçam quietas
dando tempo a que este peito cicatrize,

Preciso dos abraços
que me apertem

Preciso de voltar a qualquer lado
ainda antes de ser criança

Preciso de mim
e dos meus olhos abertos
no meio dos braços e das pernas
dos que acolhem e me deixam ficar
e dos que sabem
como o tempo rompe e dissolve.

Preciso de ti
e das árvores que me tapam o sol
quando o Verão me maltrata,
e de um copo de água generoso
ainda que a sede espere.

Preciso do orvalho nas manhãs frias
e do teu casaco quente partilhado.

Preciso dos teus poemas temerários
Irritantes, nus
que dizes com voz calma e serena.

Preciso das músicas mais tristes
que me tapam a boca
e me queimam o peito.

Preciso de paz
quando as ruas não acabam
e as crianças olham desconfiadas
a luz mortiça dos meus olhos
que ensombra as cores do teu desenho
fosco.

Preciso, sem saber bem do que precisar,
porque cada poema
me deixa mais pobre
arrancado assim à força
do que sou.

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