17.7.12

Os dias acendem-se


Os dias acendem-se já ao cair da noite, baralhados no calendário. Falo da vida, como se a vida fosse minha senhoria e vivesse em casa arrendada ameaçado a cada momento de despejo. Ligo o rádio, procuro as melodias tristes e sinto-me triste, a alma lancinante rebenta de incompreensão, pare a cada momento as lágrimas que os olhos fechados emprestam. Basta querer estar como estou, e estou.
Pego nos dias, olho cada um deles, dou-lhes nome e ordem, amonto-os certinhos, e apenas olho um de cada vez, a alma amotinada, descansa e relaxa, olho a vida e tomo-a como criança de colo, afinal, não eram dentes afiados, não eram mais que sombras agitadas do lado de lá da cortina, apenas vento e uma janela aberta.
Sei que o caminho é de cores e de texturas variadas, já quase os corri todos, sei que paro e atraso a corrida quando o medo me toma, sei que voo, quando o peito rebenta da confiança de me querer e de crer que sou capaz. Gozo, não a chegada, porque é gémea da partida, sei que é dos caminhos que respiro, sei que é no caminho que te encontro, meu amor de toda a vida, que é nos sorrisos e nos códigos das mãos que se tocam, dos ombros amparados, do teu gesto doce quando me tocas o cabelo ou me ajeitas a gola, sei que é daqui que parto sempre à espera de um novo passo.
Não me perguntem qual o passo, não me perguntem quando o darei, apenas vos quero ao lado, aos amigos, aos que me trazem novas histórias, aos que me oferecem canetas e folhas para escrever novos poemas, aos que me deixam sentar aos pés e aprender novas lições, aos que me deixam errar e ficar feliz por aprender. Sei que vou dar um outro passo, não me importa qual.
E do peito, e de dentro de mim, ofereço sem mágoa o futuro, deixo o passado arrumado em gavetas largas, onde não volto, e penso na música que me agarra ao presente, que canta feliz comigo, em escalas simples, em olhares grandiosos, em colos magnânimos, e passo ao dia seguinte, num sorriso jovial, num ar de despeito, que está na hora de acordar e ao pôr os pés no chão, gritar – deixa-te de merdas – a escolha é larga, a escolha é minha.

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