17.5.12

Poema em silêncio



Tenho os ouvidos doridos
cansado deste barulho ininterrupto
desleal
das palavras que não param.

Antes só visse…
os olhos fechados
apenas vendo
o que o escuro me deixasse espreitar.
e se a terra parasse para escutar
e se apenas ficasse de mãos dadas
contigo, comigo
entenderia  tudo o que trazes dentro,
e se eu te pudesse mostrar
que o sangue ferve
que os olhos raiam de traços escarlates
apagados por lágrimas
que me sugam o corpo
e desta dor que lancina feroz
um peito que não respira.

Tenho os ouvidos cheios
amontoados de conselhos
amontoados de rasuras
e penas
e nãos e sins
e sins e nãos.

Antes só saboreasse
teu pescoço nu
teus lábios frescos
como num filme antigo
mudo, a preto e branco
onde pudesse escutar
a melodia repetida
nas teclas de um piano
solista, e o vento assobiasse baixinho
nas pregas do teu corpo
na minha vontade
de apenas te sentir
de apenas te tocar
levemente
como me convém
em dias turvos
em dias sonoros
onde os poemas se escrevem
em silêncio

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