15.5.12

Demasiado




















Quando a boca se fecha
encarcera as palavras
deixando uma linha direita, seca
onde te faço entender, meu amor
o peso do demasiado,
da noite que nem sempre chega
viajante
do mar que nem sempre traz
o azul tranquilo
das marés temperadas.
O meu poema
é um piano atormentado
nas teclas que martelo
apalpando cada som de palavra
que é mais que um sentido
que é mais que a terra donde voa
porque traz sangue e dor colada
quando sinto que os braços
desfalecem
e se amparam noutros beirais
de um rés-do-chão
com janelas inexplicáveis
e o cheiro do jantar
que me massaja as costas
voltadas a uma televisão
cansada e surda.
Percebes-me sentado,
farto deste demasiado que me agarra,
dos coices de um animal
que nada mais quer que liberdade,
e o teu jeito terno
de me sorrires
e me desatares os nós
do novo poema
que há-de surgir de um sonho
onde nunca me lembrarei
de acordar

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