25.8.11

O Elogio da Dor











 
Há uma dor desesperada a crescer. Mal a sinto e já me dói. Vem de mansinho, afaga-me e envolve-me, cresce como se fosse um pensamento, aos poucos cercando-me. Vêm com ela as memórias pequenas das coisas grandes que passaram. São como fotos passando na frente dos meus olhos, embriagando, depois agoniando do espaço e do vazio - escuro.
 E desta  dor que aparece, e desta dor que me toma, pressinto que a conheço e já a decorei, sei qual o lado onde me dói, sei o seu nome, e desenho-a esculpindo os seus traços, deixando seu nome no roda-pé da folha, onde apareces e  olho teus olhos como se nunca os conhecesse.
No espaço do tempo que me traz a hoje, ferem-me os dias que foram ontem e nunca deveriam ser passado, porque não os encontro na procura dos caminhos. O meu destino traça-se na cama onde choro, e no chão para onde caio e rebolo no transtorno de me faltares. No lacinante desespero deste vazio, é como a loucura entrasse e me despisse. As memórias são gente de bata branca com agulhas nas mãos, aliviando por momentos a dor que sabem vai voltar. Mas agora estou calado, e tudo se cala. Na espera da próxima cólica, hão-de me agarrar com cordas a uma maca de urgência, e os gritos terão o teu nome na ponta, dando-te de culpada a todo um corredor longo, nú e despido de gentes que não me percebem nem te conhecem.
Insisto nesta dor que vem, o medo vem com ela de braço dado, vergasta-me porque não sei viver sem ela. O medo que a traz, também a leva, ri-se na minha cara. Conhece-te tão bem.
 A dor trava a morte e o fim é sempre o desejo, mas a dor ensina e atrai, aprendo a viver com ela como irmã e deixo que se torne meu alimento e consumo-a muito mais que ela própria me consome.

1 comentário:

Vanda Paz disse...

Existem dores que gritam dentro de nós e nos vão levando.... lentamente

Cabe-nos levar a vida com elas e enganá-las sempre que possivel

beijo