6.2.08

Dantes


foto de RAMARAGO

Os poemas já não são como eram
dantes,
doces,
embrulhados em papel fino,
em laços vermelhos
voluptuosos.
Os poemas andam azedos,
cortam-me os dedos
como o gelo do Inverno,
são burel que não tapa o frio,
são beijos
guardados nas mãos,
empunhadas
sustidas.
São restos de histórias,
ladainhas sem santos,
saldos presos à vontade de ter
mesmo sem querer.
Os poemas já não são como eram dantes,
voltam para partir
emigrantes
de raízes soltas,
hóstias sem bênção
pão sem sabor.
Os meus poemas navegam
nos lagos dos jardins
alugados à hora,
bastardos dos folhetins
sem fim,
sem consolo.
São poemas órfãos
vagabundos da noite
vigiando, guardados dos medos,
são poemas
com segredos
sem destino,
são poemas
sem livros sem estantes,
são instantes
embaraços desta vida,
são poemas
são pedaços,
de tanta palavra vivida.

3 comentários:

Vanda Paz disse...

Os teus poemas continuam lindos... e sou eu que o digo...

Beijo suave de um poema perdido

Anónimo disse...

os teus poemas são lindos..profundos...e intensos.bjs

Mel de Carvalho disse...

Alguns ainda são, Jorge. Correndo o risco de serem considerados "fora de moda"...
Parabéns pelo que escreve.

Um abraço fraterno
Mel