20.9.07

Resposta


foto de Lia Pansy
Não respondes. O teu silêncio corta-me o fôlego, deixa-me descompassado, triste. Irrito-me na proporção do meu egoísmo, na miserável auto-estima de que hoje toda a gente fala. Só sei que não me respondes. Os dedos bailam no teclado, procuro incessantemente o teu nome, as mensagens entradas, as chamadas não atendidas no fim de cada reunião, como se a vida de fora estivesse suspensa.
Procuro o significado de resposta. Procuro perceber o antes e o depois, a pergunta que a sugere e a não pergunta que não a causa.
Aceno que sim a mim próprio. Afinal importa mesmo ser respondido, importam os afectos e os gestos, e as coisas que os livros das psicologias falam, do que me emociona e do sentido do que tomamos como nosso, como meu.
Se gosto ou desgosto, ou não gosto, mas é meu: o meu amigo, o meu inimigo, o meu conhecido, a minha namorada e a minha mulher. Tudo o que vejo e sinto – é meu. E o que é meu, guardo, guardo mesmo sem que seja preciso inventar nada para guardarmos coisas tão grandes e preciosas anos a fio. Insubstituíveis, preciosas, inestimáveis, oxigénio e sangue, carne da nossa carne, e das minhas dores por onde filtro o que realmente me dói. O que é meu.
A não resposta é dor, porque me arranca e violenta o que é meu, aquilo que me torna corpo inteiro, que me faz feliz.
Responde, mesmo uma não resposta é sempre melhor que um silêncio, um vazio, um interminável minuto em que o vento se cala, as luzes se apagam e me torno escuridão, opacidade, invisível.
Responde meu amor, ou pergunta porque estou aqui, na mesma varanda onde um dia me mostraste a tua cidade, os teus muros, pedaços da tua infância e desse teu eu, a que sempre quis responder como meu.
Do outro lado do tempo, na cidade dos porquês, tenho uma sala marcada, esperando sempre pelo teu, que tem a resposta guardada aqui dentro. Um sim despojado e profundo de quem tudo pode dar, porque tudo se entrega a quem de verdade sabe perguntar: Queres ser meu?

10 comentários:

Vanda Paz disse...

É engraçado como só agora descobriste que a não resposta é dor...

Um texto maravilhoso, um sim como resposta... a uma pergunta que está feita...

Muito bem

Votos para que ela te leia

Beijo

T

Unknown disse...

"Responde meu amor, ou pergunta porque estou aqui"...
A ausência de respostas, ou mesmo de perguntas magoa, porque o silêncio tem o dom de ferir.
Uma crónica excelente!
Parabéns!

Beijo

Rosa Maria Anselmo disse...

olá Jorge
Como doi um silêncio!!! como o não resposta é insuportável.
Belo texto.
jinhos
Rosamaria

Isa e Luis disse...

Olá,

Que o dia te sorria:))

Belo o teu texto, apesar do silêncio, que doi muito.

Sexta feira é dia de festa no virtualrealidade,dois anos de felicidade, vem participar da nossa alegria.

Beijo!

Isa

PoesiaMGD disse...

E quem sabe a resposta chega...
Um maravilhoso texto que já tinha tido o privilégio de ler em outro cantinho onde tiveste a amabilidade de ma deixar...
Um beijo

Vera Carvalho disse...

O teu texto Jorge, empurrou-me pela leitura e corri! Como eu corri angustiada...essa ausência de respostas também me dói.
Bravo!!
Um abraço.

Anónimo disse...

Para quem será que escreves? E de quem será a resposta que procuras?...Que Deus te ilumine e te ajude a encontrar o caminho certo...Não gosto de te ver assim tão triste...Já te o disse antes...


Beijos doces no coração

Chellot disse...

Por vezes quando desejamos algo com grande empenho que seja nosso, ele acaba por nos escapar e a dor toma conta do que antes fora único. Belas palavras.

Beijos de Sol e de Lua.

PoesiaMGD disse...

Por onde andas doce fugitivo?!
Um beijo


goretidias

escritartes.com

T disse...

Olá Jorge!
Há tanto tempo que não vinha aqui e a surpresa é sempre garantida.
Tantas fãs que as tuas palavras tocam, já viste?

Beijinhos
Tania

http://cheiadetudocheiadenada.blogspot.com