2.1.07

Paixão vs morte lenta

A paixão sai de mim como se fossem cavalos selvagens que nenhuma cerca segura. – nem sempre - às vezes a vida apanha-nos, cerca-nos com os mais grossos elos de aço, as mais finas cordas, e o medo, o medo de virar mesas e cadeiras, de partir à procura da verdade, de entregá-la no colo de quem queremos.
Ficam as coisas belas, derretendo nas mãos, queimando-nos os dedos, enrugando de tanta espera. Inventamos as palavras e, perdemo-nos...
Às vezes um gesto seria tudo, uma mão sobre a outra de outra, um sorriso talvez…
uma carícia mais ousada, com uma desculpa de permeio. Mas existem as palavras. Então, rodamos em círculos e círculos, e inventamos as rotundas da nossa vida, donde nem sempre sabemos por onde sair, ou não queremos, ou não podemos, ou esta hora já não pode ser mais longa, porque pode perigosamente dizer, o que o coração teima e a razão proíbe.
É preciso contrariar a morte lenta.
Aproveitar as verdades que vêm de dentro de nós, as emoções e a química que os outros nos provocam, e da paixão, da infinita e malvada paixão que nos devora.
Às vezes o amor parece ser uma coisa mais bonita e serena, mas é construído, e tudo o que é construído tem planos e projectos...
A paixão é no fundamental aquilo que nos aguenta, nos transforma, nos faz viver com os olhos encharcados de alegria,
às vezes inventando
às vezes enlouquecendo,
de sermos ou termos de ser tão racionais e pragmáticos. Depois existem as horas, os filhos, os atilhos e os empecilhos, a família, o carro e o arranjo do carro, a TV e a TV cabo, os vizinhos e o barulho, e a lista do supermercado, e o fato novo e a camisola velha, e existem aqueles seres especiais a quem nada nos liga, mas que nos ligam ao imaginário e ao amanhecer com fome e com vontade de não morrer lentamente...

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