3.6.02

bebo um cálice de tristeza

Bebo um cálice de tristeza
sorvo-o de um trago
e experimento o gosto
amargo da sede dos poemas
que apenas se escrevem
em dias cinzentos e frios.
há uma claridade fosca
nos meus olhos,
sorrio à verdade que passa
e me convida para falar.
os marinheiros deixaram ainda agora
o balcão embebido
de um cheiro a àlcool puro
desvendador
de vidas cruas e soturnas.
as mulheres das noites sem fim
descalçaram as botas de cano alto
e entregam-se no esfregar dos
dedos
ao alívio de mais um dia.
bebo mais um cálice
esperando ainda mais um e outro.
nasce um sorriso
do nada
e entrego-me
a conversas ,
histórias imaginadas
do que cremos querer.
depois envolvo os ombros
de quem se aluga
e escolho a noite
como se a vida não esperasse,
rolando no leito que não conheço,
esperando o dia
que a verdade nunca saberá.

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