nem sei porque os poemas ainda nascem
quando as aves sacodem as penas nos ramos nus
e os alpendres acordam gelados tranquilos
nem sei o que faço na beira desta casa
nos olhares fixos pela tua porta cerrada
ainda ontem disseste adeus
ainda ontem o teu beijo ficou guardado
no sorriso perdido recusado
na ocupação dos desejos
por outros gestos serenos controlados
nem sei porque me envolvo
nos novelos duma esperança desenrolada
onde me visto de camisolas de enxoval
desta intempérie onde assentam os nossos dias
talvez talvez
haja um sol matinal a brilhar
talvez amanhã sejamos os dois
a acordar no meio do inverno
com uma caneca de café e uma manta partilhada
mesmo num alpendre gelado
mesmo num poema já seco
onde ainda haja um beijo a resgatar
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