5.9.11

Quando não te tenho















Quando não te tenho ao pé de mim,
morro nas folhas dos poemas que fui escrevendo,
ou no cheiro desta brisa que desassossega.

Quando não te tenho
e ando pelo mundo sem te encontrar,
nas marés altas que Setembro transfigura,
ou nos girassóis desafiando o sol em bandos largos e impávidos,
sou pássaro sem asa, rochedo de maré baixa.

Quando não te tenho junto aos ouvidos
e a música me fere na impaciência da solidão,
e só recordo os teus lábios trauteando,
embalando os riscos fundos das minhas rugas
que se abrem em sorrisos.
quando não te tenho,  
a madrugada gela escura, 
na sombra dos dias intermináveis,

meu corpo acaba e desfaz-se.

Quando não te tenho,
tenho o silêncio e o vazio,
tenho um nada cheio,
no frio gélido que o vento Norte arrasta,
levando cumplicidades
as memórias desfeitas e gastas
do tempo que perco sem ti.

Quando não te tenho
os cães arrojam-se ao chão e desfiguram de olhos mortiços
os sulcos cavam mais fundo os rostos dos velhos
e há gente que morre sem que eu dê por isso.
Quando não te tenho
a agonia tem vómitos e dores cavas
e os meus braços têm o tamanho de rios
longos sem foz.

Quando não te tenho
Não me tenho a mim.

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