24.9.10

Pássaro


foto de Jose d'Almeida I&D

Queria ser um pássaro
peregrino
voaria mil horas – seguidas
cairia por certo exangue
na terra dos pássaros
que voam mais de mil horas
e emprestaria as minhas asas
à ciência que descobre
como demoram a passar mil horas.
Nas memórias
dos voos seguidos, contínuos
apareceria,
escrita em letra de imprensa
negrito – são as asas de um pássaro,
e nas fotos,
permanecerá
o pó dos afectos e da pele
dos que toquei
pelo caminho
e em cada pena arrancada
um abraço
e as lágrimas
das dores que se branqueiam
num bater de asa perpétuo,
neste caminho
onde os voos e as horas
não pertencem ao céu
ilimitado,
e a vontade de planar é desejo
de quem só precisa
deste chão
para nunca aterrar.


3 comentários:

Vanda Paz disse...

por vezes as asas do poema batem mais forte, deixando o pássaro sonhar... livre

beijinho

Claudio Sousa Pereira disse...

Conheço a poesia de Jorge há algum tempo do luso-poemas, embora esparsamente, e digo-lhes que são poemas bem plasmados escritos com a densidade poética que lhe é peculiar. Sei que em Portugal tem havido muitas publicações, quem sabe se teus poemas não venham em breve ganhar forma. Um abraço Paulo Tuba (pseud. Claudio Godi)

guvidu disse...

omos desasados, mas teimamos em ser 'icaros, com td o que isso acarreta de bom e mau... bj meu