30.9.09

Razões de ti (2)


Apanho as tuas palavras que voam na minha cabeça, não quero entendê-las, basta que as sinta, basta que elas permaneçam, e me envolvam, como o teu perfume, embriagando-me, soltando os desejos presos na couraça dos dias desbotados, das tardes frias e ventosas.
Devolvo-te o meu peito, onde foste soberana, rainha de um reino, agora vencido e perdido, e nada mais resta que o esqueleto de uma memória feliz.
Passas por mim, e olhas-me na certeza de um fim já decidido, retribuo com a frieza da aceitação e perturbo-me com a fortaleza da resignação.
Sento-me na minha mesa fiel, que me aceita em todos os momentos, e me oferece o refúgio onde pastoreio os meus rebanhos de pensamentos, palavras, actos e omissões, ladainhas brancas que se estendem pelas colinas pastando até ao pôr do sol.
Na vidraça, percebo o calor húmido destes dias quentes que me arrasam, queria a chuva forte esses aguaceiros de Outono que trazem o cheiro a terra misturado com o silêncio desta luz cinzenta do fim da tarde. Fecho os olhos e inspiro violentamente, percebo a razão das razões, um fio de sol chegou à beira dos meus dedos, sem o colher – impossível – aproveito-o enquanto há, sem futuro, sem passado, apenas quente, apenas assim.

1 comentário:

Vanda Paz disse...

todas as razões são boas para colher o sol nas nossas mãos e a chuva no olhar

beijo