Digo das sombras
o que as sombras dizem de mim.
Olho-as sempre da mesma cor,
eu tenho as cores que a sombra vê
e a forma como elas deslizam,
e quando mexo
a sombra mexe comigo,
como uma consciência
um clone
uma história,
que arrastamos atrás
como mortos vivos
arrastando correntes,
a nossa memória.
Fecho os dedos
e o desenho da mão é um quadrado
e o meu chapéu
é cabeça
não tenho linhas
apenas limites sombreados,
e tudo o que junto
a mim
é a minha sombra -
não separa
não ordena
apenas é sombra,
antes reflexo
que é mais claro;
antes espelho
que é mais luz;
mas é sombra
é escuro
e é tudo o que sou
e que tenho
e que mexo
na vontade do sol,
só de dia
que na noite
a sombra sou mesmo eu.
2 comentários:
"Sou como o homem que
vendeu a sombra, ou, antes, como a sombra do homem que a vendeu."
F.Pessoa
obrigado
às vezes também colhemos sombras e guardamo-las no nosso peito...
bonito poema
beijo
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